"Nossas reflexões, neste capitulo, referem-se às características ideais, às qualidades essenciais do professor de piano moderno, considerando-se
seu contato direto e contínuo com os alunos, sua influência no desenvolvimento das potencialidades pessoais e artísticas na formação integral dos estudantes.
O grande pianista não tem, necessariamente, os atributos indispensáveis ao professor, pois este, além de sua formação como músico e instrumentista, precisa desenvolver habilidades didáticas e de relações humanas para exercer esta atividade.
No exercício do magistério, o professor de piano primeiramente, deve gostar de ensinar música, ter vocação, entusiasmo pela profissão, acreditar na importância do seu trabalho na formação do estudante e, até mesmo, orgulhar-se de ser um educador.
Adotando o pensamento de FREINET (1991. P. 102) diríamos que professor que não tem gosto pelo trabalho, é um escravo do ganha-pão, e um escravo não pode preparar homens livres e ousados; não podemos preparar alunos para construírem amanhã o mundo dos seus sonhos, se não acreditarmos nessa tarefa; só poderemos mostrar-Ihes o caminho se estivermos abertos, vivos, dinâmicos e mesmo inquietos com a Educação.
Para a psicopedagoga musical GAINZA (1988, P. 95-96), toda ação educativa deveria estar imbuída de um espírito pedagógico positivo, entusiasta, criativo, flexível e comunicativo. O espírito pedagógico positivo, explica essa autora, é aquele que crê, tanto na pessoa que está ensinando, em si mesmo, como no poder da música; o entusiasta é aquele que é capaz de avançar sempre mais, com energia e vibração. O espírito pedagógico, além de estar alerta a todas as questões do ensino, é capaz de mudar e adaptar-se às circunstâncias, de ser flexível. Acrescenta, ainda, GAINZA, na ação pedagógica, o-espírito comunicativo deve ser profundamente humano, receptivo, indo ao encontro do homem.
O amor e a dedicação ao trabalho, a coerência na maneira de ser e a autenticidade tornam a atividade do professor fascinante e envolvente. O professor, diante de seus alunos, expondo valores, crenças, verdades, filosofia de vida ou de trabalho, consciente de sua posição, muitas vezes servindo como modelo, deve conhecer-se a si próprio, atingir um auto-conhecimento mais profundo; entender seus mecanismos psicológicos, pois quanto maior a compreensão de si mesmo, maior será a aceitação e a compreensão do outro.
O professor que não consegue "administrar" suas dificuldades, reflete essas mesmas situações na atividade pedagógica. Prejudicando o processo educativo. Outra qualidade indispensável para o professor, é ter domínio da área de conhecimento, que se propõe a ensinar. Se o professor de piano não experimentou e não sentiu pessoalmente as peças do repertório que sugere ao seu aluno, provavelmente terá dificuldades para reconhecer problemas na execução e resolve-los.
Além do conhecimento das obras, o professor deve ter conhecimentos didáticos e metodológicos, no sentido de fazer o aluno perceber, sentir e entender a linguagem musical. Em suas obra Pedagogia do Bom Censo, FREINET ressalta; "Em qualquer ofício há uma técnica a ser dominada não com truques ou sortilégios, mas segundo leis simples e de bom senso, pois nunca há contradição entre ciência e técnica, por um lado e bom senso e simplicidade, por outro". (FREINET, 1991, p.6). Muitas vezes o professor não consegue bons resultados porque insiste em manter seus pontos de vista, resistindo a qualquer mudança que venha a alterar seu procedimento pedagógico. Já não podemos mais pensar, nos dias de hoje, no mestre onipotente, dono de toda a sabedoria, como afirma Etelvina Maria de Castro TRINDADE, mas no professor: "aquele ser que, como diria Guimarães Rosa, "não é o que sempre ensina, mas quem também pode aprender (TRINDADE 1982. P. 121). O verdadeiro professor não limita seu trabalho pedagógico apenas ao cumprimento de carga horária, do programa e os resultados de avaliação, mas age também em função de metas e objetivos mais significativos, visando um aprendizado permanente; o professor consciente sabe o que deseja e para onde conduz o caminho que escolheu para Si e para seus alunos.
Os objetivos que o professor propõe alcançar com os alunos deverão ser elementos fundamentais em seu trabalho letivo; juntos, o professor e aluno, traçam metas, definem valores. No caso do piano, juntos escolhem o programa e organizam o trabalho, expressam necessidades, interesses, dificuldades e preferências, num diálogo respeitoso e franco, aprendendo e, ao mesmo tempo, ensinando, como afirma a pedagoga NIDELCOFF (1978,p.21). Ainda, é de extraordinária importância, que o professor de piano tenha respeito ao aluno, ajudando-o nas suas necessidades, desejos, inclinações dando-lhe liberdade para expressar-se plenamente, fator essencial para todo,artista. Os alunos não são todos iguais e, por isso mesmo, não podem ser tratados da mesma forma; importante será conhecê-tos individualmente nos seus vários aspectos, observando-lhes a personalidade e o potencial artístico, para orientá-los diferenciadamente. Muitos professores impõem aos estudantes sempre os mesmos padrões de aprendizagem, sem levar em conta o contexto pessoal e social em que vivem.
Concordamos com os teóricos da Psicologia Humanista, quando propõem que o ensino seja centrado no aluno, para que ele tenha liberdade para manifestar suas vontades, escolher seus caminhos, viver as consequências de suas escolhas. (MORElRA, 1983, p. 82).
Nas aulas de piano, a possibilidade de realizar um ensino humanista, centrado no aluno, é quase natural porque os alunos recebem orientação individual e contínua. Segundo
BICUDO, o professor humanista vê a pessoa como um ser que está em contínuo
acontecimento, "como um ser que é apenas a medida que a experiencia torna possível que seja o que é e o que poderá ser, ao mesmo tempo. Isto é, que ela seja, psicologicamente tão saudável que possa, -concomitatemente, realizar no é do seu momento as suas potencialidades". (BICUDO , 1983,p.55).
O objetivo da educação humanista é levar o aluno a se conhecer e descobrir sua vocação através deste auto-conhecimento, definindo
assim sua
realização profissional. O professor humanista
assume uma postura de "facilitador da aprendizagem" não se opondo aos
interesses dos alunos, mas procurando encarnlnhá-los na direção daquilo que eles querem realmente saber. No caso da aula de piano, especialmente, é possível estabelecer essa realização positiva entre aluno e professor, esse clima de aceitação
receptiva, de atitude apreciadora e plena confiança."